Você me falou de Marx, de Mao, de Sartre, Gandhi, e Simone Weil. Falou de De Gaulle, Glauber, e Getúlio Vargas, de Jean-Luc Godard, Pasolini, e da esquerda italiana. Falou de Cristo e Martin Luther King. Falou de tantas coisas quando eu só queria saber algo de você. Revisão: Julia Tetzlaff Rosas Clique em Clap quantas vezes quiser e contribua com nossos poetas. Siga a Fazia Poesia.

Como são estranhos os poetas, tão reverentes e silenciosos ao lapidar em palavras e tempos verbais emoções e conflitos existenciais. Didatas, namoram o modo imperativo mas tocam a vida com gerúndios buscando atenção e reconhecimento, sem reciprocidade ou envolvimento. Ébrios, traduzem emoções em locuções, parágrafos e infindáveis vírgulas e encadeiam palavras na busca…

Vi tua foto, um momento congelado no tempo, teu olhar para a lente, teus lábios guardando um sorriso. Quase senti teu perfume o calor do teu abraço, tua respiração. Que pensamento, que emoção estavam naquele olhar? Tantos sons e sorrisos e vozes em um pedaço de papel, tantos sussurros, tantos beijos ofegantes quando nossos corpos se fundiam. Quantos detalhes, em uma imagem, perderam-se no tempo. O pequeno vaso, o móvel que apoiou teu braço.

Minerando rimas nos meus versos busco, na paisagem profunda do meu coração, emoções recicladas e insólitas. Encontro banalidades e tédio. Foda-se ! Garimpo palavras como quem busca, entre os cascalhos lisos e polidos, fragmentos de semântica tentando tirar da pedra bruta, algo que resulte em emoção. Toco o vazio. Foda-se…

Meu olhar descansa num horizonte qualquer enquanto os dias parecem cair um a um da árvore do tempo. Ando encurralado, vendo a vida de soslaio, e ainda, num eterno ainda fico esperando o dia seguinte até ele terminar quando adormeço. Carrego o sentimento do pescador que recolheu seu barco no defeso aguardando a estação de reprodução dos peixes. A gente se cansa de produtos que oferecem felicidade, por ordem de preferência escolhi gostar de ti primeiro e vivo pondo ordem em tudo organizando a desordem da vida prisioneiro de tarefas que nunca terminam e não faz nenhum sentido me ocupar tanto com o nada, melhor ver o sol se pôr e adormecer.

Tolice imaginar que não estejamos atuando, executando um roteiro mental, todos numa coreografia hipócrita, somos homens de bem, gente decente que educa seus filhos nos valores judaico-cristãos. Minha angustia não cabe num carro novo, besteira ser classe média sem o sentido de pertencimento, um grupo tosco e egoista nem pobre nem rico num vácuo econômico…

Tolice imaginar que não estejamos atuando, executando um roteiro mental, todos numa coreografia hipócrita, somos homens de bem, gente decente que educa seus filhos nos valores judaico-cristãos. Minha angustia não cabe num carro novo, besteira ser classe média sem o sentido de pertencimento, um grupo tosco e egoista nem pobre nem rico num vácuo econômico…

Eu sei que vou resistir, mas vou ligar. Dizer palavras sem contexto Gaguejar frases sem nexo Fazer papel de bobo Desmoronar ao ouvir tua voz E me odiar a vida toda por ter baixado a guarda e exposto a falta que você me faz.

No momento o tempo parece bom, o suficiente para respirar sem metabolizar venenos, mas os homens continuam soltos e as mulheres resistem com o humanismo que sobrou. Florestas agonizam no continente, enquanto o mar avança sobre as cidades costeiras. A maré alta na sala de visitas avisa que amor de verão só em downtown. Uma ordem do Conselho de Segurança manda calar guitarras que solam em mi menor e cânticos da Europa Ocidental são lamentos de refugiados.